Da congruência dos opostos na diversidade dos contextos

Minha mãe sempre dizia que "quem procura, acha!" Pois é, a Internet é um palheiro riquíssimo em agulhas, pra todos os gostos e todos os tipos de costuras. Eu procuro muito. Busco sempre; ávido... E foi em ema dessas muitas buscas minhas que dois temas, intimamente relacionados mas desconexos em seus contextos, me chamou a atenção: um por ser uma aula sobre política e o outro por ser uma aula sobre cultura. O primeiro, acontecido em Harvard, universidade americana tida como o supra sumo dos estabelecimentos de ensino em todo o mundo, sonho de consumo de todo rico emergente e quimera para os menos favorecidos; o segundo, acontecido em um teatro humilde, em território brasileiro. O primeiro, uma aula ministrada pelo brasileiro Ciro Gomes, em Harvard, de onde foi aluno e onde formou-se em Economia; o segundo, uma palestra ministrada pelo brasileiro Ariano Suassuna, em um teatro, para brasileiros comuns. Ariano, dramaturgo e professor; Ciro, professor universitário. Ariano, advogado; Ciro, advogado; Ariano, político; Ciro, político; Ariano, escritor; Ciro, escritor. Interessante é a forte ligação de ambos com o Nordeste brasileiro: Ariano, paraibano de João Pessoa; Ciro, paulista de Pindamonhangaba, mudou-se com a família aos 4 anos de idade para a cidade de Sobral, no Ceará, onde cresceu e entrou para a política. Ariano, filho de um ex-governador da Paraíba, foi secretário de estado de cultura de Pernambuco; Ciro, filho de um ex-prefeito de Sobral, foi deputado estadual (dois mandatos), prefeito de Fortaleza, governador do Ceará, Ministro da Fazenda (Governo Itamar Franco), Ministro da Integração Nacional (Governo Lula) e deputado federal. Bem, até aqui apenas a comparação entre os dois sujeitos de minhas elucubrações. Agora, vamos ao conteúdo de suas palestras. Ariano Suassuna gostava de frisar, em suas palestras, que não era xenófobo, nem chauvinista e tampouco nutria qualquer aversão pela cultura estrangeira, mas se indignava pelo desprezo do brasileiro para com sua própria cultura. Dizia que o brasileiro parece enxergar qualidades apenas no artista estrangeiro, e que geralmente qualifica a arte local, brasileira, como irrelevante e de menos importância, se negando a valorizar o que é seu, suas raízes e origens. Ciro Gomes gosta de frisar em suas palestras, que o brasileiro que sai do Brasil, para estudar no exterior, acaba sendo aculturado pelo estrangeiro e volta para o Brasil não com a visão que fora buscar, mas com a visão que aprendeu lá, ou seja, de que o brasil não tem jeito; que é um país corrompido e corrupto, etc.. Aqui no Brasil, esses brasileiros que se ilustraram no exterior, nada fazem para mudar a situação do país, e adotam uma postura de conformismo, buscando, fisiológica e corporativamente, aplicar o aprendido não em benefício da nação. Contudo, Ciro defende, antagonicamente à Suassuna, que deveríamos, nós brasileiros, atentarmo-nos a uma determinada cultura estrangeira, praticada em diversos países: a cultura política. Pontua, por exemplo, que na maioria dos países estrangeiros os parlamentares são julgados e escolhidos por seus pensamentos, suas ideias, seus pontos de vista e, principalmente, por sua capacidade em defender os interesses dos cidadãos de seus países, criando leis e regulamentos, legislando para o povo. Contudo, no Brasil, nós brasileiros, julgamos e escolhemos nossos parlamentares pelas promessas de obras, pelas emendas parlamentares, por "doações" disso ou daquilo que fazem às nossas comunidades, sempre com o dinheiro público. Embora paradoxais, ambos têm razão, tanto Suassuna como Ciro. Devemos valorizar o que é nosso, contudo sem deixar de assimilar o que os outros têm de bom a nos oferecer. Nós mesmos pervertemos nosso sistema de governo, forçando nossos parlamentares a atuarem como gestores e, em contrapartida, levando nossos gestores a agirem como parlamentares. No meio disso tudo vão-se os recursos públicos, como moeda de troca de votos e apoios políticos, levando à escalada da corrupção endêmica em terra brasileira. E sempre que a barra pesa, apelamos a extremos, para remediar os males que causamos, procurando nos opostos à situação um salvador da pátria, como se os opostos não se atraíssem. O que mais prejudica o Brasil é exatamente isso: o radicalismo dos extremos. O que nos remete à antiguidade da cultura grega (que me perdoe o Suassuna), onde alternavam-se os Tiranos pela complacência do Povo, que sofria em sua ilusão de democracia, prevalecendo àquele que demonstrasse maior poder de persuasão na linguagem em que o povo queria ouvir, e não na linguagem das necessidades reais da nação. É fácil acusar os políticos de corruptos e, aqui, faço mais uma alusão a um dos ditos populares repetidos por minha saudosa mãe: "macaco enrola o rabo, senta em cima, para falar mal dos rabos dos outros". Nossos políticos são nossos representantes e somos nós que os escolhemos, portanto representam sua classe. Se são corruptos... Ciro disse uma frase que resume bem o nosso sistema político: "Eu, (se eleito) presidente, vou negociar com quem estiver lá (no Congresso Nacional). Portanto, cuidado com quem vocês vão eleger (deputados e senadores)". É isso. Não dá para esperar que um presidente seja honesto, se o Congresso está cheio de "representantes" desonestos. Boa tarde, Brasil!

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